Lua em Câncer
Câncer é a casa da Lua, seu único domicílio celeste, o mangue onde ela deita e frutifica. A Lua versa sobre a vida, sua casa é fértil e acolhe com afeto aqueles que procuram algum aconchego. É aqui também que a Lua expressa melhor um de seus maiores atributos: a capacidade da memória. Ninguém morre enquanto é lembrado, a memória permite estender nossa narrativa para além dos limites da vida - por isso Saturno, senhor dos limites e do fim, encontra em Câncer o seu exílio.
O caranguejo é seu símbolo, animal pequeno e arisco que anda sempre de lado evitando dar as costas a quem quer que seja. É porque é justamente pelas costas que se apanha um caranguejo, a parte sensível da carapaça onde as pinças não podem proteger. Por trás de tanta dureza, o caranguejo esconde uma carne mole e delicada. A Lua, andando no céu, é como um caranguejo sorrateiro, caminha sempre de lado e evita mostrar a outra face, seu lado escuro, a sua carne mole.

Câncer também é a queda de Marte. Quem nasce sob a Lua carangueja carrega no peito histórias de afeto e acolhimento, ama o aconchego que a familiaridade é capaz de proporcionar, cultiva memórias em solo fértil e deixa que elas cresçam e se esvaziem como as marés. Lua em Câncer é mãe de pessoas sonhadoras, sensíveis, intuitivas, sua afinidade é com a água e sua capacidade receptiva, mas também com o ritmo cardinal dos inícios e dos impulsos.
Nos dias que a Lua está em Câncer buscamos qualquer coisa que nos dê um pouco de aconchego, andamos por aí feito caranguejos, carregamos pedaços do nosso lar como conchas presas às costas. As noites são mais sensíveis e as memórias mais vivas, o afeto da infância pode de repente invadir o peito e transborda em delicadas imagens e sonhos. A Lua domiciliada oferece casa para todos os devaneios e saudades. Somos navegantes do mar da memória e cada gota de água é também a nossa casa.
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