Sol em Gêmeos
Um só ventre, dois irmãos. Assim começa a história de Castor e Pollux, e de muitos outros irmãos que embalam as histórias da nossa imaginação. Conta o mito que um irmão era mortal e o outro, imortal. Dois lados contrários e complementares, as duas faces de uma moeda, as duas colunas de um templo. No céu, a figura dos irmãos está eternizada em dois corpos de mãos dadas formando um único conjunto de estrelas.
Gêmeos é a expressão diurna e sanguínea do planeta Mercúrio. Sua face mais jovem, primaveril, cheia de energia e curiosidade. Aqui o intelecto se divide, bifurcando-se em polos opostos, mas nunca separados por completo: a mão direita e a esquerda dedilhando vozes diferentes que se unem na mesma melodia.
No seu caminhar pelo zodíaco, o Sol inicia sua jornada com o rompante impulsivo do carneiro, depois ganha corpo e nutrição na força do Touro, agora, em Gêmeos, é hora de interagir com o mundo e desenvolver sua própria linguagem. Falar se aprende falando, imitando os sons que os outros fazem ao nosso redor. É através do diálogo e da descoberta da existência do outro que o Sol em Gêmeos descobre a si mesmo.

Aqueles que nascem sob Sol em Gêmeos carregam no olhar a curiosidade natural das crianças que começam a perguntar o porquê de tudo. São ávidos por aprender fazendo, olhar com os dedos, experimentar na prática. As ideias mudam de lugar constantemente, como se um vento inquieto lhes soprasse na cabeça. Fernando Pessoa - poeta de Sol em Gêmeos - incapaz de caber em si mesmo, inventou uma conferência na própria cabeça, disse e contradisse suas próprias ideias, mudou de forma, de estilo, de verdades, despersonalizando-se em mil pedaços para depois se juntar em uma só grande obra.
Nos dias que o Sol caminha em Gêmeos, somos convidados a atiçar a mente e a curiosidade pelo mundo e suas ideias. As palavras saem leves e arteiras, nenhuma digressão é por acaso, nenhuma conversa é jogada fora. Bom momento para dar asas às escritas, aos estudos, às trocas e todas as artes mercuriais. E também um convite a ler muita poesia, afinal, como diria Pessoa:
“Em prosa é mais difícil de se outrar”.
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