As casas astrológicas
Dar um chão aos movimentos do céu
Quando olhamos um mapa astrológico estamos observando uma representação de dois movimentos distintos. O primeiro movimento é a rotação da terra girando no seu próprio eixo e formando as 24 horas do nosso dia. O segundo movimento, muito mais sutil, é o dos planetas caminhando, a partir da nossa perspectiva, através dos graus que compõem o zodíaco, este movimento nos fornece os calendários, a divisão entre meses (ciclo lunar) e anos (ciclo solar), e deriva da observação atenta dos astros através da eclíptica em comparação com outros pontos mais lentos, como as estrelas fixas. No entanto, quando pretendemos trazer os simbolismos do céu para serem interpretados como correspondências da vida aqui na terra, precisamos assentá-los dentro dos assuntos que nos rodeiam e dar um pouco de chão ao céu.

Se o Sol está a 00º de Áries isso será fato para todos os lugares, afinal, essa é a posição aparente do Sol dentro do seu próprio percurso pela eclíptica. No entanto, dependendo do ponto de observação, esse mesmo Sol poderá estar despontando no horizonte, culminando ao meio-dia, pondo-se ao oeste ou até mesmo invisível no céu. São as horas do dia, o movimento primário da terra rodando no seu eixo, que determinam o acidente que chamamos horóscopo: os astros lançados como dados na mesa da terra.
É disso que se trata a divisão em doze casas. Os planetas apresentam a ação, os signos dão o tom dessa ação, as casas indicam o cenário que aquele ato se desenrola. São as casas que dão materialidade aos assuntos celestes, que permitem acomodar o simbolismo nos tópicos cotidianos das nossas vidas.
Os diferentes sistemas de casas
A divisão exata das doze casas astrológicas é uma discussão constante ao longo do desenvolvimento da história da astrologia. Atualmente, os sites e aplicativos disponíveis para o cálculo de mapas astrológicos mostram uma infinidade de sistemas possíveis para o desenho das casas astrológicas, alguns com diferenças quase imperceptíveis entre si, outros com diferenças sensíveis quanto ao posicionamento dos planetas. Essas diferenças acontecem porque há inúmeras maneiras de criar essas divisões artificiais que chamamos de casas astrológicas, cada sistema tem a sua lógica própria e cálculos diferentes são utilizados.

Podemos classificar os sistemas de divisão das casas astrológicas em duas categorias: a divisão natural ou a por quadrantes. Nas formas de divisão natural é tomado um ponto de referência e a partir dele todo o céu é dividido em doze partes iguais. Quem acompanha o nosso trabalho já deve ter percebido que damos preferência para um determinado sistema de casas chamado de signos inteiros, o mais antigo sistema de casas desenvolvido. No sistema de signos inteiros cada casa corresponde a totalidade de um signo, dessa forma, para dividir as casas, basta descobrir o signo do ascendente e a partir dele conseguimos determinar o posicionamento de todos os planetas em suas casas correspondentes. É um sistema simples e muito eficiente, que funciona bem com a maioria das técnicas tradicionais. Já as formas de divisão por quadrantes tomam o grau do Ascendente como o início da Casa 1 e o grau do Meio-do-Céu como o início da Casa 10. Cada sistema de quadrantes irá utilizar formas diferentes de dividir os quadrantes do céu, alguns farão a divisão através do tempo que os astros levam para ascender e culminar, outros buscam dividir o céu através do espaço. Independente da forma de divisão escolhida, o sistema de quadrantes vai apresentar muitas variações a depender da latitude para onde o mapa é calculado, o que resulta em Casas com signos interceptados ou mais de um signo regendo a mesma casa.
Importante ressaltar que não existe um sistema de casas que seja o verdadeiro ou mais correto, trata-se de uma divisão artificial que pode sempre ser repensada e recriada. Cada astrólogo vai escolher um sistema de acordo com suas próprias experiências e argumentos particulares e todos os sistemas funcionam eficientemente se o astrólogo tiver conhecimento e consistência no seu trabalho. Há inclusive astrólogos que trabalham com mais de um sistema de casas ao mesmo tempo a depender da técnica que será utilizada para o atendimento. A astrologia é um oráculo, e como todo oráculo é possível adaptar a linguagem simbólica para diferentes técnicas sem que isso prejudique a eficiência da mensagem a ser transmitida.
O significado das doze casas
Independente do sistema que escolhermos, uma vez que determinamos os lugares das doze casas astrológicas precisamos conhecer os seus significados. Ao contrário do que muitas vezes se divulga, o significado das doze casas não nasce a partir dos signos do zodíaco, ou seja, dizer que a Casa 1 é a casa de Áries, a casa dois de Touro e assim por diante é uma simplificação que mais atrapalha do que ajuda na compreensão do assunto. Embora seja possível encontrar semelhanças e associações entre signos e algumas Casas, não é por aí que deveríamos compreendê-las porque seus significados derivam de outras relações. Os assuntos atribuídos a cada um das Casas vai derivar do movimento dos astros no céu, os pontos de ascensão, culminação, declínio e anti-culminação, e a relação que determinados pontos do céu fazem em relação ao ângulo do horizonte leste (o ascendente). Por isso, é muito mais interessante conhecer o significado das casas pela relação com o movimento primário, sem forçar qualquer correspondência com os signos do zodíaco. As casas são assuntos terrenos, correspondem aos cenários onde determinada trama se desenvolve, por isso falam de assuntos do mundo. Como afirma William Lilly: “[O conhecimento das doze casas] é tão necessário que aquele que aprenda a natureza dos planetas e signos sem o exato julgamento das casas é como um homem imprevidente que se abastece de uma variedade de objetos para casa, não tendo lugar para os colocar.”
Casa 1 - Quem somos
A Casa 1 corresponde ao horizonte leste, local onde os planetas ascendem e se tornam visíveis no céu, portanto, essa é a casa que marca o ascendente. Para os astros, ascender é nascer, por isso, o ascendente revela as estrelas, astros e signos que nasceram junto com cada vida. É a Casa do aqui e do agora, do espaço que nos rodeia. O signo do ascendente e o seu planeta regente são as primeiras representações do papel que cada um de nós irá desempenhar na narrativa da vida. A Casa 1 é nosso corpo, nossa mente, nossa forma, o planeta regente dessa. E por estar associada a essa cabeça que desponta, ela também representa a nossa forma e organização mental, por esse motivo Mercúrio, o planeta das ideias, tem a sua alegria nesta casa. Qualquer planeta posicionado na Casa 1 ganhará muito destaque e marcará profundamente a aparência, forma e destino. Em uma pergunta de astrologia horária, a Casa um corresponde ao querente, ou seja, aquele que faz a pergunta. Em um mapa de astrologia mundana, como o ingresso do Sol em Áries ou mesmo um mapa de Lunação para um determinado local, a Casa 1 irá representar o povo daquele país ou cidade. Isso nos ajuda a entender como esta é a Casa do indivíduo, do particular, do nosso ponto de vista dentro de um determinado assunto ou situação.
Casa 2 - Nosso sustento
A Casa 2 é a segunda que se levanta, por isso, diz-se que ela sustenta a primeira Casa, é o apoio da nossa cabeça e tudo aquilo que nos ampara tem lugar aqui. Na Casa 2 está o nosso dinheiro, se nascemos com muito ou pouco, se ele nos vem de forma fácil ou esforçada, como lidamos com ele, se poupamos ou gastamos em excesso. Mas nem só de dinheiro se sustenta um corpo, por isso a Casa 2 é a Casa do apoio e dos nossos apoiadores, as pessoas que nos prestam amparo, que nos ajudam no dia a dia e nas grandes empreitadas da vida. Os conselheiros, os advogados, aqueles que acreditam no nosso trabalho ou simplesmente dão um empurrãozinho no nosso caminho também podem estar representados nesta Casa.
Casa 3 - O nosso entorno
A Casa 3 é a primeira casa a trocar olhares com o ascendente através de um sextil. Aqui nós localizamos os primeiro arredores da nossa vida, as coisas e pessoas que nos cercam para além do limite pessoal, por isso é a casa que representa nossos irmãos, mas também nossos vizinhos, os círculos próximos do nosso convívio. É a casa que representa o espaço da rua, as trocas, conversas, cartas e recados que pulam de um lado para o outro, por isso também é uma Casa associada à comunicação. Casa das pequenas viagens, os trajetos rápidos do dia a dia, nossa capacidade de mudar de um lado para o outro. Como a Lua é a errante mais rápida do céu ela fica muito alegre nesta casa e suas constantes mudanças de um lado para o outro. Quem nasce com a Lua na terceira casa costuma ter uma vida marcada por idas e vindas, constantes mudanças e muitas pequenas viagens.
Casa 4 - as nossas raízes
A quarta casa corresponde ao lugar da anti-culminação, é o ponto do fundo do céu, o chão, o que está mais abaixo. Por isso seu significado guarda relação com todas as coisas que associamos ao chão: nossas raízes, nossa origem, nossa estrutura. É a casa da família, do pai especificamente ou dos pais em geral, nosso lugar de origem, nossas tradições, mas também os imóveis, as casas que escolhemos chamar de nossas, os lugares onde criamos e afundamos nossas raízes. É uma casa ligada ao passado, aos assuntos que vem de antes de nós, sejam familiares ou mais que isso, ancestrais. E como chão, a quarta casa também representa a conclusão, o fim de todas as coisas e assuntos da vida.
Casa 5 - as crias e prazeres
A quinta casa enxerga o ascendente através de um trígono, por isso é uma casa benéfica e de assuntos felizes. É a casa da alegria de Vênus, por esse motivo é chamada de “Bona Fortuna”. Aqui encontramos todos os assuntos que agradam a deusa do amor: artes, entretenimento, tudo que dá prazer e nos diverte, a sexualidade e os filhos, claro, porque afinal os prazeres de Vênus geram vida! Também pode ser a casa dos filhos simbólicos, nossas criações, aquilo que surge da inspiração artística e dos desejos mais íntimos. Esta costuma ser uma casa importante para os artistas, para pessoas que trabalham com beleza ou entretenimento, que dão valor ou prazer ou vivem de proporcionar prazer aos outros, também é uma casa muito ligada aos assuntos e temas femininos.
Casa 6 - servidão e doença
A sexta casa não enxerga o ascendente. Isso significa que ela não oferece apoio à vida, por isso seus assuntos serão mais desafiadores. Na antiguidade, era uma casa associada aos escravos, criados, servos e empregados. É a casa do trabalho desgastante, do serviço e da servidão. É nesta casa que Marte tem sua alegria, já que o deus da guerra se alegra em meio as rebeliões e as revoltas daqueles que estão em condição servil. Nesta casa também encontramos assuntos ligados à doenças, afinal o trabalho desgastante também está intimamente ligado ao adoecimento. Aqueles que trabalham excessivamente ou tratam de assuntos ligados à saúde e ao adoecimento de pessoas podem ter uma íntima relação com esta casa. Casa de médicos, de prestadores de serviço, de pessoas movidas por causas sociais de todos os tipos. Aqui também estão representados os animais domésticos e todos os animais “menores que um bode”, portanto aqueles que dedicam à vida aos cuidados com bichinhos também podem ter fortes ligações com esta casa.
Casa 7 - os outros
A Casa 7 é o descendente, o ponto oposto ao ângulo leste que encara frente a frente o ascendente. Essa posição oposta é simbólica dos outros em nossa vida, tanto os nossos pares quanto os nossos antagonistas. É nessa casa que buscamos os casamentos e os relacionamentos amorosos, mas também as parcerias em geral, nossos sócios, companheiros, pares de maneira ampla. Os inimigos declarados, aqueles que formam um par no sentido de competir ou enfrentar-se, também têm lugar nessa casa astrológica. É uma casa angular, portanto planetas aqui localizados tem uma grande importância na interpretação do mapa. Qualquer planeta na casa 7 estará muito fortalecido, mas também pode estar em oposição ao ascendente, o que pode indicar um risco ou desafio para o destino. Afinal, a casa dos amores é tão complexa quanto o ato de se relacionar.
Casa 8 - a morte e as heranças
A Casa 8 é uma casa cadente que não faz aspecto ao ascendente, por tanto não ampara ou apoia a vida. Do ponto de vista do movimento primário, quando o Sol passa por essa casa indica que está se aproximando do ocaso, o dia se encaminha para o seu fim. Transportando a simbologia do céu para a terra, essa casa vai falar do fim da própria vida. É uma casa de ocultamento, planetas aqui localizados podem enfrentar desafios na sua expressão ou representar angústias e medos que de alguma forma atormentam o nativo. Por outro lado, uma das significações derivadas desta casa é o dinheiro das outras pessoas, portanto aqui também podemos encontrar testemunhos de heranças, enriquecimento através do casamento ou de parcerias. Pode ser uma casa importante para pessoas que trabalham cuidado do patrimônio de outras ou tratando de questões legais referentes à heranças e casamentos.
Casa 9 - estudos, viagens e espiritualidade
A Casa 9 é a casa de Deus e a alegria do Sol. Aqui vamos encontrar informações sobre grandes viagens e relações com o estrangeiro. É também a casa dos estudos e do conhecimento superior, muito presente para aqueles que se dedicam a uma vida acadêmica. Outro tema importante relacionado à nona casa é a espiritualidade, a religião e todos os tipos de oráculos como a astrologia, os sonhos e as visões. Uma casa afortunada por formar trígono ao ascendente e, portanto, dar amparo à vida e ao desenvolvimento do indivíduo. A presença forte dessa casa no mapa é frequente em mapas de pessoas que viajam para fora de seu país ou interagem com outras culturas, aqueles que tem uma vida dedicada à fé e assuntos espirituais e também os estudiosos e professores de todos os assuntos.
Casa 10 - o meio do céu
A Casa 10 frequentemente coincide com o ângulo do Meio-do-Céu, ponto mais importante do mapa depois do ascendente. Este é o ponto de culminação dos astros no céu e, portanto, um local de destaque que guarda relações íntimas como a vida pública. Por isso, buscamos nessa casa informações sobre a profissão, vocação, carreira e desenvolvimento do nativo dentro do mundo. Na antiguidade, era a casa dos reis, por isso também representa pessoas importantes e nossa relação com chefes ou superiores. É a casa do destaque, dos prêmios, da promoção, do pódio. Através do regente desta casa conseguimos inferir qual a vocação do nativo e como ele irá se colocar na sua vida pública. Uma casa 10 com muito destaque pode indicar um nativo com destaque profissional, muita visibilidade ou mesmo relação com pessoas importantes e poderosas.
Casa 11 - o bom espírito
A Casa 11 é uma casa cadente que forma um aspecto de sextil ao ascendente do mapa, conhecida como Bonus Daemon ou bom espírito. Júpiter, o grande benéfico, tem sua alegria nessa casa. Significa os amigos e a amizade, as esperanças e desejos, e as coisas boas que “caem do céu”, ou seja, as coisas boas que recebemos através dos nossos amigos, as recompensas do nosso trabalho, os benefícios que ganhamos de pessoas importantes ou poderosas. É uma casa afortunada que guarda uma relação íntima com as coisas que desejamos e as alegrias que nos alcançam.
Casa 12 - as prisões e angústias
A Casa 12 não enxerga o ascendente, portanto é uma casa desafiadora. Os antigos a chamavam de Malus Daemon porque aqui estão as angústias, tribulações e prisões que enfrentamos na vida. É a casa dos inimigos secretos, da difamação ou daqueles que nos atacam pelas costas, mas também é a casa das nossas próprias angústias mentais, os processos de autossabotagem que nos amarram ou nos prejudicam e que se escondem nos nossos pontos cegos. Também é a casa das bruxas, da heresia e dos animais de grande porte. Saturno tem sua alegria nessa casa.
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