Sirius, a estrela alfa do Cão Maior
Além dos planetas e signos a observação dos céus na antiguidade inclui também as estrelas e suas constelações. Os antigos as reconheciam, nomeiam e atribuíam significados a partir dos momentos que elas ascendiam, culminavam ou se ocultavam. Na astrologia, as estrelas são denominadas como “estrelas fixas” porque se mantêm no mesmo lugar, diferentemente dos planetas, que são pontos errantes vagando no céu. No entanto, as estrelas também se movem, porém em um ritmo muito mais lento, avançando cerca de 1º a cada 72 anos.
Entre as estrelas nomeadas do céu, uma das mais importantes é Sirius, a estrela alfa da constelação do Cão Maior. Com exceção dos luminares e alguns planetas, Sirius é o corpo celeste mais brilhante do céu noturno, o que justifica sua importância como ponto de orientação desde a antiguidade. Segundo Ptolomeu, é uma estrela da natureza de Júpiter e Marte, grandiosa e feroz, trazendo glória, renome e tribulações. Sua localização atual é aos 14º do signo de Câncer.

Há muitas interpretações para a figura do Cão nesta constelação. Algumas versões afirmam que o animal seria o protetor de Europa que tentou, sem sucesso, impedir que ela fosse raptada por Zeus. A versão mais difundida no entanto descreve o Cão Maior como o fiel companheiro do caçador Órion, já que as duas constelações estão lado a lado no céu. Essa versão do cão caçador é reforçada pela constelação da Lebre, localizada bem ao lado do Cão Maior e que aparenta ser perseguida por ele:
“Para que você não se surpreenda com essas tendências sob tal constelação, veja como até mesmo a própria constelação caça entre as estrelas, pois em seu curso ela busca capturar a Lebre (Lepus) na frente. [Manilius, Astronomica , século I d.C., livro 5, p.316-319].

Sirius era uma estrela adorada no antigo Egito, sua ascensão heliacal coincidia com o momento das cheias do rio Nilo, as águas do rio transbordavam como se fossem guiadas pela estrela e anunciavam um período de fertilidade junto ao solstício de verão. No zodíaco de Denderah desenhado no teto do templo, Sirius é representada como uma vaca sobre um barco com a estrela entre os chifres, acompanhada de Órion que aparece a frente. Ao longo dos tempos a estrela passou a ser cultuada e muitos templos egípcios têm suas entradas alinhadas com o ponto de nascimento dessa estrela.
Para os gregos, o alinhamento do Sol com Sirius anunciava os dias mais quentes do verão, daí vem o nome canícula, o famoso calor do cão. Essa associação trouxe para a estrela imagens mais violentas e destrutivas, ampliando a maleficência do calor solar. É assim que ela aparece figurada, por exemplo, na Ilíada, ao ser comparada com o raivoso Aquiles:
"O primeiro a vê-lo com os olhos foi Príamo, o ancião:
viu-o refulgente como um astro a atravessar a planície,
como a estrela que aparece na época das ceifas, cujos raios
rebrilham entre os outros astros todos no negrume da noite,
estrela a que dão o nome de Cão de Oríon.
É a estrela mais brilhante do céu, mas é portento maligno,
pois traz muita febre aos desgraçados mortais.
Assim brilhava o bronze no peito dele enquanto corria.”
(Ilíada, canto XXII - 25 -35 Tradução: Frederico Lourenço)

Por seu brilho grandioso, Sirius chegou a ser considerada o centro da Via Láctea, Manílio afirmou que a estrela seria “um sol distante para iluminar corpos remotos”. O Cão Maior é o guardião dos pontos mais importantes do céu, uma vez que a conjunção ou oposição do sol a Sirius aponta os solstícios de verão e inverno. Na simbologia astrológica Sirius guarda as características dos cães, é leal, fiel e honrada, mas também feroz, violenta e quente. A conjunção com esta estrela confere destaque e proeminência, sobre sua ascensão de Sirius, Manílio afirma:
Mas quando o nemeu surge abrindo sua imensa boca, então é que a brilhante Canícula se ergue e ladra as suas chamas, e se enraivece com seu fogo,duplicando o incêncio do Sol. (...) Os nascidos sob a Canícula não temem florestas, rochedos, enormes leões, ou as presas dum espumante javali, e as armas dos animais selvagens, e gastam as suas chamas contra o corpo que lhes estiver no caminho.
Quem nasce com um planeta ou ângulo do mapa próximo ao 14º do signo de Câncer irá contar com a estrela Sirius em seu mapa e os múltiplos atributos que a estrela revela. Do ponto de vista marcial, o cão é proteção, é a noção de dever e lealdade à sua matilha e território, o que reforça os atributos cancerianos mas lhes confere também ação, força e coragem. Já a parte de sua natureza atribuída à Júpiter pode ser entendida pelas cheias do Nilo que espalham a fertilidade e indicam o momento propício para semear a terra. Sirius é grandiosa e potente, e onde quer que esteja irá trazer brilho e destaque, assim como ela se destaca nos céus noturnos.
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