Vênus em Capricórnio
Vênus em Capricórnio caminha com passo firme no chão seco e duro do sertão. Porque a beleza não se limita ao que é suave e deleitável, a beleza também resiste nos lugares improváveis, na pedra ordinária, nos galhos secos e sofridos, na velhice inevitável. Vênus representada em dura escultura de pedra. A pele áspera, inflexível, resistente ao tempo. Engole os homens e suas supostas certezas. Vence a morte. Persistência.
Vênus que ama Saturno. Sabe que o amor se cultiva como fermento e envelhece como o vinho. Paixões são ondas que vêm e vão, levadas pelo embalo da maré, mas a deusa-cabra busca o amor-pedra, aquele que não se dobra, não arrefece. O amor que permanece em teimosa paciência e vai aos poucos sendo moldado pela chuva e o vento. Amor que se cria no ventre melancólico do tempo. Amor de cabra.

Vênus que exalta Marte, que é capaz de matar ou morrer. A cabra sobrevive ao penhasco, à escassez, aos espinhos e ao coração partido. Porque a beleza é uma forma de resistência e a grande conquista do amor é ser derrotado por ele. Amar é um ato de coragem!
Nos tempos de Vênus em Capricórnio nossos desejos obedecem ao passo lento de Saturno, desejamos devagar, sem pressa de chegar a algum lugar, apenas com a persistência de sobreviver aos invernos e secas da vida. A poesia se mostra nos lugares improváveis, naquilo que parece duro e difícil, mas que Vênus nos ensina a tornar belo. O amor que devora as coisas cotidianas da vida como o tempo devora seus filhos: lentamente. A deusa rói a nossa carne, e só se sente satisfeita quando vê saltar dela, branco e nus, os nossos ossos.
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