Marte em Libra
- Mariana Campos
- 6 de ago.
- 3 min de leitura
Um homem nos aborda na mesa de bar em que estávamos, vestia regata. Era verão. Os músculos de seus braços se exibiam tesos, tão exatos que me fazem agora proferir quase homonímias, músculos másculos. Respirem. Em cada uma das mãos, ele arfava um leque, que sacodidos em nossa direção diziam: ar. Era o vendedor de leques, que naquela noite quente paulistana, após uma aula de astrologia da Saturnália, veio nos brindar com a sua real e também metafórica presença. Me explico.
Conversávamos, em aula, sobre a necessidade do exercício de imaginação para vivificar as posições celestes, e também tentarmos escapar dos clichês - tantas vezes úteis - astrológicos. Marte, aguerrido, Marte, espadas. Marte, associado ao mítico Deus da Guerra romano, como se não bastasse dizer "Roma" para explicá-lo.
Como um planeta seco, Marte é direto. Como um planeta quente, Marte está sempre em ação. Algo mais aqui deve contar: independente do signo no qual um planeta se encontra, a sua natureza é imperiosa. Quero dizer, agora, com Marte em Libra, ou seja, Marte no domicílio diurno na Vênus, Marte não se converte em Vênus. Mas, algo sim, desse signo, de seu elemento e de seu ritmo tomam as vias de expressão de sua natureza colérica, bélica, retilíea. Por estar em um signo cardinal, Marte em Libra decide, mil vezes, e outras mil, reconsidera a sua decisão - como ares inquietos a oxigenar esses seus músculos - faço, não faço, disfarço.
Em consultas astrológicas, alguém vive um ciclo marcial, e repetidamente digo: Marte não faz curvas. Com um só movimento, o vendendor de leques assopra uma massar de ar quente em minha direção, como quem diz: será mesmo?

Com Marte em Libra, Marte em signo de Vênus, essa sim, curvelínea, os meios marciais ganham novos adjetivos. Um deles, respectivo a sua suposta debilidade, é Marte exilado. Marte, no signo oposto de Áries, Libra, e por isso, distante de sua morada diurna. Um deslocado. Há, em cada exílio astrológico, uma inconformidade. Esse desajuste não anula os seus efeitos, ao contrário, às vezes os tornam ainda mais explícitos. É como eu leria, na natividade de Nelson Mandela, seu Marte em Libra. E se os pratos da balança libriana andam descompensados, Marte, com a sua bandeira aérea como esse signo, sacode Vênus pelo ares: todos somos dignos de algum bem-viver. Mas é óbvio que nem todas as natividades de Marte em Libra dão em incisivos pacifistas. Cada um, cada uma, ao seu modo, encontra os meios de suas expressões, digamos, mais curvas, mais aéreas, mais ponderadas.
Como um planeta designado a ações diretas, esse vai-naõ-vai de Marte em Libra pode ser mesmo lido como uma debildiade, de seus desígnios - digamos que - naturais, mas não necessariamente comom um defeito, muito menos de caráter. Seria genérico demais, fujamos disso. Pensem mais uma natividade e já vamos direto ao ponto: a Lua em Escorpião de Alfred Hithcock (outro exemplo que já é um clássico de sala de aula no quesito "suspense"). Essa Lua, toda aclimatada no misterioso lacrau, é diposta, isto é, é regida, pelo Marte em Libra do cineasta. E se alguém sentia tensão diante dos mistérios de Escorpião (eu disse tensão, meninas), vocês já tentaram se relacionar com Libra? O puro creme do suspense!
Pode até parecer que Marte em Libra adia a retidão, o corte preciso, mas há de se considerar aqui, que Libra também é a exaltação de Saturno, ou seja, em Libra, Marte paga o seu tributo ao senhor de todas as lentidões, e experimenta, assim como às vezes padece, da demora. Esse "fica pra depois" ganha tanta dignidade nas palavras de um Marte mais em Libra, Anais Nin:
"Eu adio a morte vivendo, sofrendo, errando, arriscando, dando, perdendo".
Leio esse "adiar a morte" como um "largar as armas". Por que isso seria indigno, se é - ou deveria ser - uma lei universal?




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