Marte em Peixes
Marte traz o mar em seu nome! Sem a sua coragem jamais teríamos nos atrevido ao gesto insano de entrar em um barco e lançarmo-nos ao imensurável volume de águas que chamamos oceano.
Em Peixes, Marte está nas águas de Júpiter, deus detentor de todos os raios, e que vocifera os céus através da sua voz de trovão. Pois, Marte em signo de Júpiter faz jus ao que dele se diz: mar calmo nunca fez bom marinheiro. Embora Marte em Peixes não esteja dignificado como em Áries, Escorpião ou Capricórnio, ele aí ganha dignidades por triplicidade, já que tem parte com as águas. Certamente não é o típico corajoso, mas, no populacho dos ditos náuticos é sabido: o mar quer os medrosos, porque os afoitos ele já tem por certo.
Ao signo de Peixes atribuímos as expansões, em razão de seu senhor, Júpiter, ser a lente de aumento do mundo. Dessa forma, os limites são levados além das fronteiras do conhecido. E nas grandes navegações dos séculos XV e XVI a história da imaginação se cruza com a poética das águas. Se o que se conhecia da perspectiva ibérica era Ásia, o norte da África e as Índias, então Marte, na sua qualidade de conquistador, foi quem sonhou novas terras, conquistas além-mar. Nisso, Portugal, que dispunha de uma experiência marítima principalmente impulsionada pela atividade da pesca (vejam vocês!), emergiu como grande potência da época, figurada sob a égide da Escola de Sagres, supostamente fundada pelo infante Dom Henrique, que reunia e incentivava o conhecimento náutico. Os registros da existência de tal escola, no entanto, são sobretudo literários, com poucas evidências da materialização dela como instituto, mas elevada em crônicas da época. Pois é disso justamente que se trata: o universo dos Peixes dissolve a realidade, e inaugura a materialidade da ficção. Um exemplo fantástico desse universo é a proliferação das criaturas - monstros - marinhos, que devoraram tantos daqueles que se aventuraram por suas águas. Peixes e as suas fantasias, suas ficções.

Os nativos e as nativas que têm Marte em Peixes não limitam seu campo de ação a territórios conhecidos. São movidos por grandes desafios, ficcionais, ao modo quixotesco, e estes colocarão a prova, não a sua coragem, mas sobretudo a envergadura de sua esperança. É o Marte, por exemplo, de Che Guevara, e que aliás, o representa em seu mapa, uma vez que tinha Ascendente em Áries. E como todo signo mutável traz consigo uma boa dose de improviso, esse Marte é o guerreiro dos movimentos intuitivos, como se sentisse o próximo golpe de seu oponente, e se esquivasse, liso como um peixe.
Por exaltar a Vênus, Marte em Peixes convoca o ludibrio da arte nas suas tarefas de guerra. E foi necessária muita literatura para cantar e eternizar então os conquistadores como heróis: Marte em Peixes é o cultivo da imagem de um mártir. Mas a história das conquistas, todas elas, tem pelo menos duas margens, Mártir para uns, assassino para outros. E aqui reside a relevância de reconhecer um dos principais atributos de Marte: a violência. O signo por onde Marte transita sofrerá as cisões, os cortes e as feridas contra os valores atribuídos àquele signo. Se a compaixão do benéfico signo de Peixes o orienta, é justamente a compaixão que aí será ferida. Marte em Peixes fere o seu próprio imaginário de salvador, porque habita a impossibilidade de salvar o mundo inteiro. Grande mares, grande tormentas.
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